A nossa cultura da celebridade se desenvolve a partir de uma ideia distorcida da vida excelente.
A páscoa é um tempo de renascimento e renovação. É difícil renovar a si mesmo, não apenas porque somos fracos e temos tentações, mas porque a nossa cultura da busca pelo prazer lança desprezo sobre todas as formas antigas de sacrifício, e concebe a realização como um divertimento. O “divirta-se” substituiu o “saia-se bem” como felicitação de despedida, e tudo aquilo de que depende a nossa felicidade foi velado sob uma máscara de prazer imediato.
Você não precisa ser um filósofo ou um teólogo para reconhecer que o prazer e a felicidade não são a mesma coisa. Existem prazeres perversos, destrutíveis, viciantes, desprezíveis: mas não existe algo chamado felicidade ímpia, destrutiva, ou viciosa. Quem é feliz tem a posse do maior bem humano; a felicidade não faz incursões em nossa liberdade; ela traz amor pelos outros e traz alegria a todos que a encontram. Ela está tão longe do prazer quanto a saúde da intoxicação. Daí a definição de Aristóteles da felicidade como “uma atividade da alma em conformidade com a virtude”.
Os prazeres são de muitos tipos; mas aqueles que são mais perigosos para nós surgem do consumo. Quando você consome uma coisa, você também a destrói. Durante um breve momento você sente prazer por segurá-la em suas mãos, mas o seu prazer significa ruína dela. Uma vez ingerido o hambúrguer ou a taça de vinho, aparece em seu lugar a sensação de saciedade e satisfação – ou, se você tiver chegado ao estágio do vício, a ânsia servil por mais. As pessoas sempre reconheceram que exaltar os prazeres do consumo como um objetivo de vida humana é privá-la de sua finalidade. No entanto, o grande erro continua. E existem também outros prazeres que, embora não destruam aquilo que os origina, têm como recompensa um resultado que é ou ranço ou vício. A tela de todo quarto de hotel tenta o convidado a esses prazeres fáceis – fáceis de sentir, difíceis de escapar. Em tudo que nos circunda em nossa sociedade vemos o preço que as pessoas pagam por seus prazeres: uma sensação de que nenhum prazer é proibido, mas todo prazer é obsoleto.
Além disso, surge a cultura da celebridade. Surge a ilusão de que alguém, em algum lugar, deve estar se divertindo verdadeiramente, e não tendo apenas uma diversão ilusória que se apaga tão logo é acessa. E nós voltamos os nossos olhos para aqueles lugares onde essa diversão verdadeira parece estar mais evidente – lugares onde a fama, a saúde, a boa aparência e a excitação sexual sobejam. E enchemo-nos de inveja. Lá está o sentido da vida, são eles, e não eu, que o possuem. Buscamos uma prova de que a celebridade é, afinal de contas, a criatura fracassada, infeliz, mal-amada, que desejaríamos que fosse. E dessa maneira passamos a experimentar outro tipo de prazer: o prazer de desejar a desgraça do outro, que os alemães chamaram schadenfreude e que é um prazer tão insatisfatório quanto qualquer outro que conhecemos. Santo Agostinho nos lembra de que a inveja e a malícia têm uma mesma espada: mas ela alcança seu alvo apenas se primeiro trespassa o corpo daquele que a empunha. Ele não é preciso o inquérito Leveson para nos lembrar disso; mas nós ainda precisamos tirar a lição correta daqueles eventos tediosos, a qual não é que devemos censurar a imprensa, mas que devemos censurar a nós mesmos. A causa principal do jornalismo sórdido é o desejo de lê-lo.
Onde quer que encontremos o culto da celebridade, portanto, nós encontramos uma profunda infelicidade. “Diversão” tornou-se o maior bem, mas a diversão está sempre fora do alcance, disponível apenas em outro mundo inatingível onde as estrelas estão dançando. Enquanto isso, a inveja e o ressentimento coloram o mundo aqui em baixo, e não há alívio ao salvar os prazeres de consumo.
Se você quer uma prova de que nosso mundo é assim, então você deve observar a arte moderna – mil subprodutos do famoso urinol de Duchamp que acabaram na Tate Modern, e que são a prova do status de celebridade das pessoas que os produziram. Aqui estão os monumentos de um mundo de onde a beleza foi expulsa, e no qual as sensações governam em seu lugar. Isso não é arte, mas acondicionamento: fortes cores de supermercados, temas chocantes e imagens grosseiras, como os bonecos humanoides dos irmãos Chapman – todos contando a mesma história de que não há sentido no mundo, mas apenas diversão, e que as diversões são enfadonhas. Aqui está a prova de que não existe uma coisa chamada diversão verdadeira; que a diversão é uma ilusão em todas as suas formas.
Para todos aqueles que compartilham do meu ceticismo em relação à vida de consumo e de culto da celebridade, e que se afastam da diversão, eu recomendo uma visita ao Tate Modern. Trata-se de um lembrete preocupante das coisas que a galeria não contém, como a felicidade, a beleza e o sagrado, coisas que nós celebramos, ou deveríamos celebrar, neste tempo de renovação espiritual. Tais coisas, nós as valorizamos, mas não as podemos consumir. E porque não as podemos consumir, elas nos oferecem consolação e um abrigo permanente.
Considere a beleza – a beleza das flores e paisagens, dos pássaros e cavalos, das coisas que vemos, tocamos e cheiramos enquanto caminhamos pelo campo. Nós estamos em completa harmonia com essas coisas. Não temos desejo de consumi-las ou destruí-las. Nós olhamos para elas com gratidão, e elas refletem de volta para nós as nossas emoções, como que nos abençoando à medida que as abençoamos. Essa é uma experiência elementar que consideramos difícil colocar em palavras. Mas nós sabemos que não se trata de diversão, que ela não depende de fama ou saúde ou prazeres auto-indulgentes. Trata-se de nos reconectar com nossa essência humana, de nos encontrar em paz e em casa no mundo.
A beleza tem muitas formas, é claro, e a beleza natural é apenas uma delas. Existe a beleza da arte e da arquitetura, da música e das formas humanas. Mas, em todas as suas variedades, a beleza tem uma qualidade notável: ela oferece consolação sem consumo: o seu desfrutar não destrói o objeto belo, mas simplesmente amplia seu poder. O júbilo da beleza nunca é vicioso, e, no entanto, nos afeta intensamente. E quando lá voltamos a buscar mais, não o fazemos por um desejo ou necessidade, mas por um regresso ao nosso lar interior, a fim de compreender o que somos.
O belo e o sagrado estão conectados em nossos sentimentos, e ambos são essenciais para a busca da felicidade. Eu penso que não é por acaso que, numa vida de prazer consumista e de “diversão” alardeada, surge o hábito de dessacralizar a forma humana e a vida que nela está. O culto da celebridade é um substituto da fé religiosa, e também uma inversão dela. Ele oferece profanação em lugar da santidade, inveja no lugar da reverência, e diversão no lugar de bem-aventurança. Mas isso não satisfaz ninguém. O curioso é que o caminho da felicidade continua aberto diante de nós e ainda assim muitas pessoas não o trilham.
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