quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Arte, Beleza e Julgamento - R. S.


American Spectator [1]
Julho/Agosto de 2007
O bom gosto é tão importante na estética quanto no humor.


UM SÉCULO ATRÁS MARCEL DUCHAMP assinou um urinol com o nome “R. Mutt”, intitulou-o “A Fonte” e o expôs como obra de arte. Imediatamente, a piada de Duchamp precipitou uma indústria intelectual dedicada a responder a questão “O que é arte?” A literatura produzida por essa indústria é tão vazia quanto as infindáveis imitações do gesto de Duchamp. No entanto, ela deixou um resíduo de ceticismo. Se tudo pode ser considerado arte, então a arte deixa de ter um propósito. Tudo o que resta é o fato curioso, mas infundado, de que alguns parecem olhar para algumas coisas, e outros, para outras coisas.  Quanto à sugestão de que há um esforço da crítica que busca por valores e monumentos duradouros do espírito humano, ela é descartada como algo que depende de uma concepção de obra de arte que já foi purificada pelo dreno da fonte de Duchamp.

O argumento é avidamente abraçado, porque parece libertar as pessoas do fardo da cultura, dizendo-lhes que todas aquelas veneráveis obras primas podem ser ignoradas impunemente, que a TV é de fato ‘tão boa quanto’ Shakespeare e que o techno-rock é pode ser equiparado a Brahms, uma vez que nada é melhor do que nada e toda proclamação de valor estético é vazia. O argumento, portanto, está de acordo com as formas elegantes de relativismo cultural, e define o ponto a partir do qual os cursos universitários de estética tendem começar - e onde tantas vezes terminam.

Seria muito útil fazer, aqui, uma comparação com as piadas.  É difícil circunscrever a categoria das piadas, assim como na classificação de obras de arte. Qualquer coisa pode ser uma piada, se alguém o afirma. Uma piada é um artefato produzido para ser objeto de riso. Ela pode falhar ao tentar exercer sua função, caso em que é uma piada que ‘quebra a cara’. Ou ela pode desempenhar a sua função ofensivamente, caso em que ela é uma piada ‘de mau gosto’. Mas nenhuma das duas sugere que a categorização de piadas é arbitrária, ou que não existem distinções entre piadas boas e ruins. Tampouco sugerem que não há lugar para a crítica de piadas, ou para uma educação moral em que o senso de humor decente é um objetivo a ser alcançado. Na verdade, a primeira coisa que você deve aprender, ao ter em consideração as piadas, é que o urinol de Marcel Duchamp foi uma delas – muito boa num primeiro momento, brega em meados do século 20, e totalmente estúpida nos dias de hoje.

Como as piadas, as obras de arte têm uma função. Elas são objeto de interesse estético. Elas podem desempenhar essa função de modo recompensador, oferecendo alimento para o pensamento e elevação para o espirito, ganhando para si um público leal que retorna até elas para obter consolação ou inspiração. Tais obras podem desempenhar seu papel de um modo que seja julgado ofensivo ou francamente aviltante. Ou elas podem falhar completamente em nos oferecer o interesse estético que estão solicitando.

AS OBRAS DE ARTE que jamais esquecemos caem nas primeiras duas categorias: a consolação e o aviltamento. Aquelas que são um fracasso total desaparecem da memória pública. E é realmente importante o tipo de arte a que você se apega, que você inclui em seu tesouro de símbolos e alusões, que você traz em seu coração. O bom gosto é tão importante na estética quanto no humor, e, na verdade, o gosto é que está em jogo, aqui. Se os cursos universitários não começarem a partir dessa premissa, os alunos terminarão seus estudos de arte e cultura tão ignorantes quanto começaram.

É verdade, no entanto, que as pessoas já não veem as obras de artes como objetos de julgamento ou como expressões da vida moral. Cada vez mais, muitos professores de humanidades concordam com a opinião inculta dos seus alunos recém-chegados de que não há uma distinção entre o bom gosto e o mau gosto. Mas imagine alguém dizendo a mesma coisa sobre o humor. Jung Chand e Jon Halliday recontam uma das raras ocasiões em que o jovem Mao Tse-tung desatou a rir: foi no circo, quando o equilibrista caiu do alto da corda bamba para a sua morte. Imagine um mundo em que as pessoas rissem apenas das desgraças dos outros. O que um mundo como esse teria em comum com o mundo de Tartufo de Moliere, As Bodas de Fígado de Mozart, Don Quixote de Cervantes, ou Tristam Shandy de Laurence Sterne? Nada, exceto o fato do riso. Tal mundo seria degenerado, um mundo que a bondade humana já não mais encontraria confirmação no humor, em que um aspecto inteiro do espírito humano teria se tornado atrofiado e grotesco.

Imagine agora um mundo em que as pessoas só demonstrassem interesse por caixas Brillo, por urinóis com assinaturas, por crucifixos mergulhados na urina, ou por objetos similares, retirados dos resíduos da vida diária e colocados em exposição com uma espécie de intenção satírica – em outras palavras, o programa cada vez mais comum das exposições oficiais de arte moderna na Europa e nos EUA. O que esse mundo teria em comum com o de Duccio, Giotto, Velazquez, ou mesmo Cézanne? Claro, haveria fato de que os objetos seriam colocados em exibição, e o fato de que os veríamos em espetáculos estéticos. Mas este seria um mundo degenerado, onde as aspirações humanas já não encontrariam mais sua expressão artística, onde já não forjaríamos, para nós mesmos, imagens do ideal e do transcendente, e onde estudaríamos a ruína humana, e não a alma. Nesse mundo, um aspecto inteiro do espírito humano – o aspecto estético – teria se tornado atrofiado e grotesco. Pois, se temos aspirações em relação à arte, quando essa aspiração acaba, o mesmo ocorre com a arte.

Parece-me que agora o espaço público da nossa sociedade começou, de fato, a se render ao tipo de degradação que eu tenho descrito. O nosso espaço público foi tomado por uma cultura que não deseja educar nossa percepção, mas capturá-la, não para enobrecer a vida humana, e sim para banalizá-la. Eu só posso oferecer uma resposta imperfeita de por que isso é assim. Mas que isso é assim é certamente inegável. Observe a arte vigente nas sociedades modernas – a arte que acaba sendo exposta em museus ou em pedestais públicos, a arquitetura que é autorizada por órgãos públicos, ou mesmo a música que desfruta dos favores da máquina de subsídios públicos – e você encontrará, frequentemente, ou kitsch burlesco, ou gestos deliberadamente hostis desafiando as tradições que fizeram com que a arte fosse diga de ser amada. A maior parte da nossa arte pública é destituída tanto do amor quanto da humildade que provém dele. 

Disso não podemos concluir que os gostos e os juízos são coisas do passado. Nem que a arte tenha sido banida das nossas vidas ou que tenha perdido seu significado. Tudo o que podemos deduzir é que a arte está sendo conduzida para fora da área pública. Você já não pode mais encontrá-la em algum lugar lá fora, e sim apenas aqui, em foro íntimo. A arte está sendo privatizada, enquanto cada um de nós se esforça para se manter fiel a uma visão da beleza que já não confia em compartilhar fora do círculo de amigos. Uma das causas desse fenômeno é a cultura democrática, que é avessa a julgamentos de qualquer tipo, em especial ao julgamento dos gostos. A atitude predominante é a de que você tem o direito de ter suas preferências, mas não o direito de impô-las a mim.

A maior parte dos estudantes americanos chegam ao colégio com essa atitude, e ficam perplexos ao descobrir que existem pessoas que não apenas discordam das suas preferências musicais, artísticas e literárias (para não falar em vestimentas, uso da linguagem e relações sociais), mas na verdade as olham com desprezo, como inferiores a determinado padrão conceituado. Isso é algo que é difícil de aceitar, e é uma das causas da adesão generalizada ao relativismo cultural em suas várias formas -- uma vez que o relativismo cultural coloca a experiência estética completamente acima do mundo do julgamento, e portanto neutraliza o valor do bom gosto. E a preferência pela arte que dessacraliza a imagem humana ou o espaço público está conectada com o temor de emitir julgamentos estéticos. Ao defender o que é deliberadamente desagradável e detestável, você torna o julgamento ridículo: tanto o meu quanto o seu.

Parece-me, contudo, que a atitude democrática está em conflito com si mesma. É impossível viver como se não existissem valores estéticos, quando se vive uma vida real entre pessoas reais. As maneiras, as roupas, os discursos e os gestos -- tudo exige uma atenção cuidadosa à aparência das coisas. Em cada esfera da vida humana, desde a preparação da mesa até o discurso fúnebre, as escolhas estéticas são necessárias e são observadas. Sem elas não podemos resolver o enorme problema de coordenação que surge quando milhares de indivíduos se amontoam num espaço público. Deste modo, na cultura democrática, o julgamento estético começa a ser experimentado como uma aflição. Ele impõem um fardo insustentável, algo que devemos acatar, um mundo de ideais e aspirações que está em forte conflito com a indecência e a imperfeição de nossa vidas improvisadas. Ele está pendurado sobre os nossos ombros como uma coruja, enquanto nós tentamos esconder nossos animais roedores domésticos em nossas roupas. A tentação é voltar-lhe as costas e mandá-lo embora.

Eis outra razão para o desejo de dessacralização. Este é um desejo de voltar o juízo estético contra si mesmo, de modo que já não pareça um julgamento sobre nós. A todo momento notamos isso nas crianças -- o prazer por barulhos, palavras, alusões desagradáveis que ajudam-nas a se distanciar do mundo adulto que as julga, e cuja autoridade elas desejam negar. Esse refúgio habitual das crianças em relação ao fardo do julgamento adulto tem se tornado o refúgio dos adultos em relação à sua cultura. Ao usar a arte como um instrumento de dessacralização, eles neutralizam pretensões da arte: ela perde sua autoridade, e eles se tornam cúmplices na conspiração contra os ideais.


[1] http://spectator.org/articles/44944/art-beauty-and-judgment

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ritos de Passagem – Roger Scruton

The American Spectator [1]
Outubro de 2011
Os tumultos ocorridos nas cidades britânicas durante o verão foram enquadrados pelos nossos formadores de opinião nas categorias fáceis que regem o seu pensamento. Os escritores de esquerda citaram a escassez urbana, a pobreza e o racismo – em outras palavras, fatores pelos quais os arruaceiros não podem ser responsabilizados. Os escritores de direita apontaram para o multiculturalismo, para o engodo do sistema de bem-estar social e para a ruína da vida familiar – de novo, fatores pelos quais os desordeiros não podem ser responsabilizados. Porém, o fato é que os responsáveis pelos motins foram os seus próprios participantes. Provocar tumultos é natural ao ser humano, e é um fato freqüentemente observado em nossa selvageria inerente. Os jovens são particularmente propensos a criar confusão: e nas condições de caçadores/recoletores [hunter-gatherer] é de se supor que, entre dormir, copular e comer, eles não façam muito mais que isso. Os jovens aderem à arruaça tão logo haja algo para ganhar com ela, e sempre que não haja nada sério a perder. O que precisa ser explicado não é o fato de que eles provoquem tumultos, e sim o fato muito mais extraordinário de que em geral não o façam. O que, ao longo dos séculos, continha a energia dos nossos jovens e garantia que eles respeitassem a vida e a propriedade dos outros?

A resposta é "civilização". Mas essa resposta, de certo modo, repete a pergunta. O que, exatamente, gera uma civilização? O que eleva o ser humano acima de sua condição selvagem e lhe confere respeito pela ordem, consideração pelos outros e hábitos de obediência sem os quais a pretensão da humanidade por um lugar especial em nosso planeta não seria melhor do que a pretensão de ratos, sapos ou mosquitos?

No século 19 e no início do 20, os antropólogos tiveram a oportunidade de observar sociedades que não tinham sequer escrita, nem instituições formais de governo, mas que possuíam algo do qual estão privados a multidão, o bando e a turba, isto é, a perpetuidade. Aquelas sociedades “primitivas” subsistiam de geração em geração, e cada uma delas absorvia os costumes e reconhecia as obrigações que lhe eram transmitidas por seus pais, preparando-se inconscientemente para passar, por sua vez, aqueles benefícios aos seus filhos. Embora houvesse disputas e rivalidades, e embora a violência irrompesse de vez em quando e às vezes existisse em formas ritualizadas e reiteradas, a condição normal era a de associação pacífica, em que cada membro da tribo se sentia ligado a todos os outros numa rede de obrigações que não podia ser transgredida impunemente. Os muitos “eus” estavam integrados em um único “nós”, e o que tornou isso possível, mais do que qualquer outro fator, foi o interesse da tribo pelas transições críticas das quais dependia sua perpetuidade. Assim como na vida dos pais, cada nascimento era reconhecido como um acontecimento na vida da tribo. A transição da infância para a responsabilidade adulta não era, como agora, uma realização individual, a ser alcançada de qualquer forma ou de modo algum, mas um interesse público, que receberia um reconhecimento cerimonial. Na cerimônia de iniciação, as obrigações deviam ser solenemente assumidas e o interesse da tribo admitido como maior que o de qualquer indivíduo. Do mesmo modo, o casamento era um ritual público; e quando, finalmente, o indivíduo era preparado para descansar entre seus antepassados, essa passagem também era acentuada como uma preocupação de todos.

Os ritos de passagem (como Arnold van Gennep os chamou mais de cem anos atrás) ainda existem aqui e ali, em nosso mundo, notadamente em sociedades que não foram atingidas pelas comunicações modernas. Mas ninguém pode negar que eles estão desaparecendo da Europa em geral e da Grã-Bretanha em particular. Quando os comentaristas de direita se queixam do colapso da família, eles não querem dizer que as casas de família são substituíveis e conturbadas. Elas são assim desde o início da civilização. Eu cresci numa casa de família. O que os comentaristas querem dizer, ou deveriam dizer, é que a instituição crucial da qual as crianças dependem para sua segurança, isto é, o casamento, está desaparecendo. Filhos fora do casamento são agora a norma na Europa, e as únicas pessoas que procuram se casar logo são os homossexuais, ansiosos por um reconhecimento que está perdendo rapidamente o seu significado. A ausência deste importante rito de passagem significa que o nascimento, também, é uma questão privada, não mais um acontecimento na vida de uma comunidade, mas uma paixão pessoal da mãe, que será ajudada em seu calvário (pelo qual ela deveria escolher passar) pelo mesmo sistema de bem-estar social que se encarregará da criança.

Mas talvez a perda mais importante é a do rito de passagem para fora da infância. Quando o indivíduo alcançava certa idade, a comunidade lhe oferecia uma recepção. Em resposta a essa acolhida, o adolescente assumia os benefícios e encargos da participação na vida adulta: a maturidade deixava de ser um fenômeno biológico e era reformulada como uma dádiva social. Em sociedades complexas como a nossa, essa transformação não era marcada por uma cerimônia única, embora as antigas cerimônias ainda existissem em alguns lugares. Essa transformação era marcada por inúmeros empreendimentos de pequena escala: ofertas locais para tornar-se membro e delegações de responsabilidade que eram vistas com orgulho tanto por aqueles que as recebiam e quanto pelas pessoas que as administravam.

Times, tropas de escoteiros, escolas e todo tipo de clube ofereciam seus ritos locais de passagem; Bar-Mitzvah, Crisma e Primeira Comunhão eram ícones religiosos que carregavam esse mesmo sentido. De inúmeras maneiras, os adultos mantinham o limite entre a infância e a maturidade e apresentavam a maturidade em termos que envolviam toda a comunidade e que poderiam ser aceitos apenas mediante o reconhecimento do dever de obediência à comunidade nas coisas que mais lhe importavam.

ACREDITO QUE O QUE EU ESTOU DIZENDO AQUI é simples senso comum. Contudo, se for esse o caso, por que deveríamos nos surpreender se nossas sociedades perdessem o dom precioso da perpetuidade, num tempo em que já não existem mais as grandes transições pelas quais seus membros poderiam ser reconhecidos publicamente? As crianças tropeçam, hoje, na vida adulta, despreparadas e indefesas. Pouco ou nada as protege do espetáculo da desordem adulta. Os objetivos de vida tradicionais, como o casamento e a família, já não lhe são mais apresentados como etapas normais de um modo de vida. E a proliferação de imagens e tentações sexuais destrói tanto a inocência da infância quanto a responsabilidade da vida adulta, de modo que a fronteira entre as duas é apagada. Em certo sentido (muito verdadeiro), as crianças são deixadas à sorte, para que se defendam por si mesmas, para que forjem,  fora das ruínas que testemunham, o único tipo de comunidade que pode  auxiliá-las em tal situação -- que é o bando.

A essência do bando é que ele vive numa relação antagônica com o seu meio. O mundo a seu redor pertence aos outros, àqueles que não têm direito de participação no grupo e cuja propriedade e estilo de vida os demarca como alienígenas. Deste modo, o bando emerge em um mundo que já está fechado para ele, e deve fazer algo para tornar sua presença conhecida. (Várias são as avenidas que indicam tal presença.) Uma maneira é vandalizar o espaço público e gravar nele um símbolo rival. Esse é o verdadeiro sentido do grafite, que são assinaturas de gangues, destinadas tanto a desfigurar o espaço público quanto a apropriar-se do seu significado.

Outros ritos de passagem artificiais estão disponíveis. A confrontação violenta com outras hordas é um deles, e nas cidades britânicas essa forma de iniciação é bastante comum, o que acarretou, nos últimos anos, muitas mortes por facadas. Os motins também podem ser ritos de passagem -- uma maneira de "aderir" que oferece oportunidade se sentir membro e libertado, e que realiza o desejo de vingança contra um mundo que até então não havia oferecido nada além da exibição da propriedade alheia. Eles não costumam se intensificar na medida a que temos assistido na Grã-Bretanha neste último verão. Mas o tumulto está no pano de fundo da vida adolescente, como sabem todos os que conhecem alguém que vive perto de uma de nossas escolas do centro da cidade.

Não é apenas na Grã-Bretanha que esses efeitos foram notados. Na Alemanha, cada espaço público foi desfigurado pelo grafite e pouco ou nada é feito aos responsáveis -- afinal de contas, a punição pertence à forma de vida autoritária que os alemães estão tentando com tanta dificuldade esquecer. Ao mesmo tempo, essa permissão para destruir não satisfaz a fome dos jovens alemães por participação grupal ou a sua raiva contra um mundo que tem falhado em propiciar essa participação. Toda sexta-feira à noite, durante os últimos quatro anos, automóveis foram incendiados em Berlim, e um artigo em Die Welt am Sonntag comparou recentemente a situação na capital germânica com a de Tottenhan, onde as arruaças britânicas começaram. E não pensemos que a obsessão germânica com o neonazismo é absurda. Prive os jovens dos ritos de passagem para dentro da ordem social e eles vão buscar um rito de passagem para fora dela. Isso, no meu ponto de vista, é a verdadeira explicação para o caso de assassinato em massa perpetrado pelo norueguês Breivik, um homem cujo pai o havia rejeitado, que não encontrou nenhuma sociedade que o incluísse e que despejou sua vingança em jovens que pareciam estar se divertindo com o próprio reconhecimento grupal que lhe faltava.

Uma coisa é reconhecer a necessidade de ritos de passagem, outra é propor uma maneira de redescobri-los. Até agora os esforços dos políticos na Europa e nos Estados Unidos foram negativos. O resultado das políticas atuais foi subsidiar nascimentos fora do casamento, transformar o casamento num contrato de coabitação e conduzir a religião, que é a verdadeira guardiã dos ritos de passagem, para fora da esfera pública. Essas políticas são abraçadas com a melhor das intenções, mas mostram uma clara indiferença para com o que sabemos acerca da natureza humana. O camnho de volta à perpetuidade será longo e doloroso, porém, é manifesto, sem dúvida, que o primeiro passo que deve ser dado é parar de subsidiar as soluções alternativas.



















Nota: o título do artigo original é Riots of Passage, ou seja, algo como Motins (ou Arruaças) de Passagem, o que permite uma espécie de trocadilho com Ritos de Passagem. Mas eu não consegui traduzi-lo, criativamente, para o português. Por isso, deixei apenas Ritos de Passagem.

Texto original: